sábado, 21 de junho de 2008

Viver a vida e o mingau de fubá



Como todos sabem, estou padecendo meus últimos dias na Terra.
Com direito a uma quase overdose.
Litrosss de remédio no nariz e nada.
Era colírio.
Fui, moribunda, tateando até a farmacinha do banheiro, peguei o Afrin, deitei, botei.
Era Tylenol.
Ardeu horrores, quase vomitei.
Meus inúmeros leitores já devem ter tomado Tylenol, é um treco doce, enjoado, no nariz dá uma rica ânsia de vômito.
Lavei o nariz pra botar o maldito Afrin, mas é um placebinho, né.
Durmo abraçada com o rolo de papel higiênico.
Já perdi uns 2 Kg só de secreções nasais.
Mas, enfim, este intróito escatológico foi apenas pra falar de Vivre Sa Vie.
O filme mais bem falado do Godard, por cinéfilos de todas as estirpes, inclusive os que não gostam de Godard, o filme que eu mais tinha curiosidade de ver dele.
Me arrependo de ter visto essa semana.
Além de estar numa fase cinéfila desinteressada e entorpecida pela gripe, fui vítima da pior coisa que já comi na vida: mingau de fubá.
Minha mãe, fazendo a linha curandeira, fez um mingau deprimente, ela mesma vomitou a manhã inteira no dia seguinte.
Eu não vomitei, mas toda vez que lembro do maldito, tenho vontade.
Este post foi inteiramente escrito com estômago embrulhado.
E ela me socou o mingau já no finalzinho do filme, na cena de dança na sinuca.
Mas, não tem jeito.
Vivre Sa Vie sempre terá o gosto do mingau de fubá.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara



As everybody knows, fui fazer meu concursinho no Rio esse final de semana, j'ai essayé, j'ai essayé e morri na praia, mas isso não tem nenhuma importância.
Brasília, segundo Clarice, "uma prisão a céu aberto".
Segundo alguém que eu não lembro, "Lúcio Costa edificou o próprio espanto".
Segundo Mônica Waldvogel, num debate sobre "coisas exóticas que já fiz na vida" no Saia Justa: "já morei em Brasília".
Realmente, nos momentos se-tudo-é-tão-ruim-por-onde-eu-devo-ir-a-vida-vai-seguir-ninguém-vai-reparar-aqui-neste-lugar-eu-acho-que-acabou eu tenho idéias exóticas.
Brasília é tão áspera que os narizes sangram.
Esqueçamos Brasília.
Eu tô parecendo aquelas que levam fora e ficam inventando defeitos no cara.
Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo.
Esqueçamos Brasília, definitivamente.
Voltemos à bela e banguela.
Mais banguela que bela.
Eu até que dei sorte de a prova cair num lugar bom, um amigo foi fazer outro concurso no mesmo dia e teve que parar lá em Madureira, eu fiz na UniRio, na Urca, vendo os bondinhos subindo e descendo o céu de Suely.
No 2º dia cheguei mais cedo pra dar uma revisada, enquanto fazia minhas leiturinhas de Políticas Públicas e Gestão Governamental num banco de cimento na sombra de uma árvore, surgiu uma moça de, sei lá, uns 30 anos, moradora de rua e deitou na minha frente, debaixo da árvore.
Eu tinha visto os papelões ali, mas não tinha ninguém, ela surgiu do nada, falando que tinha desistido de pegar um solzinho porque tava muito quente, deitou e roncou.
Sempre lembro de Juliette Binoche em Os Amantes de Pont-Neuf quando vejo mulheres-mendigas, lembro de algo que um dos personagens fala no filme, que a mulher que mora na rua se brutaliza, deixa até de menstruar.
Fiquei triste uma semana depois que vi esse filme.
E ali na minha frente.
E as minhas leiturinhas.
Políticas Públicas e Gestão Governamental.
While my eyes go looking for flying saucers in the sky...
Naturalmente, o filme me deixou muito mais triste do que a moça roncando ali na minha frente.
A moça roncando foi como aquele conto da Clarice, em que a protagonista fica fascinada ao ver um cego mastigando chiclete no ônibus, sabe?
E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento...
Não sei explicar muito bem.